Miguel, para os nossos leitores, descreve-nos um pouco tu enquanto jogador?
Era um jogador que dava tudo dentro de campo, desde que fosse um jogo grande, nos outros jogos, tinha alguma dificuldade em motivar-me para a tarefa! Globalmente penso que fui um bom jogador e um privilegiado por ter jogado com e contra quem joguei.
Aos poucos conhecedores, fizeste parte da última equipa sénior masculina de voleibol no FC Porto. Que recordações tens desses tempos?
Eu joguei 8 anos no F.C.Porto, o meu clube do coração, onde comecei com 13 anos e de onde saí com 19. Lá, passei os melhores momentos da juventude e aprendi o que é ser Portista. Foram anos maravilhosos, onde pude conhecer alguns dos meus melhores amigos de sempre e tempos de grandes conquistas. Tive o privilégio de ganhar o último campeonato e as últimas Taças de Portugal desse grandioso clube. Infelizmente por um lado e felizmente por outro (pois fui campeão pela Académica de Espinho) no ano em que o clube fechou a secção de voleibol eu já la não jogava.
Enquanto atleta, conta-nos qual foi aquele atleta que ainda te trás enorme saudade da modalidade?
Seria muito injusto da minha parte, destacar apenas um nome, pois houve vários jogadores que foram realmente extraordinários e que conseguiam com a classe que possuíam encher pavilhões, mas vou citar aqueles que sem dúvida mais me marcaram e dos quais tenho realmente saudades de ver jogar hoje em dia: Nelson Puga (que era o meu ídolo de infância, um verdadeiro dragão dentro de campo), Humberto Silva (um atacante extraordinário, talvez o melhor de sempre), Hélder Teixeira (um dos jogadores com mais classe e versatilidade de todos tempos) e claro, Carlos Filipe, (um dos maiores talentos de sempre, um verdadeiro génio). Muitos outros nomes poderia e deveria destacar, mas estes, para mim têm maior relevância, pelo facto de serem os craques que foram com condições muito inferiores em todos aspetos: quer condições de treino, horas de prática, vencimentos (nalguns casos até pagavam para jogar). Sem querer menosprezar de modo algum os atuais jogadores, penso que qualquer um destes nomes, seria hoje sem sombra de dúvidas melhor do que os melhores de hoje.
Depois destes que infelizmente e por motivos óbvios hoje já não jogam, tenho de referir um nome, que apesar de ainda se encontrar em atividade, já me deixa saudades, pois infelizmente para o nosso voleibol e para o desporto em geral, um dia ele vai ter de deixar de jogar e quando isso acontecer…… O grande Miguel Maia, melhor jogador Português de sempre (INDISCUTIVELMENTE), um líder nato, um grande companheiro, estratega, trabalhador e acima de tudo um grande amigo, ou por outras palavras: um Fora de Série. Felizmente tive a sorte de poder jogar com ele grande parte da minha vida desportiva e de com ele conquistar tantos e tantos títulos!!!
O voleibol tem mudado ao longo dos anos. Para ti, estão melhores as mudanças de agora ou do tempo em que jogavas?
Temos de fazer uma analogia entre o voleibol e as outras modalidades. A meu ver mudaram-se coisas a mais. Desde regras a medidas de campos (volei de praia), passando pela introdução do jogador libero estes últimos quinze anos foram férteis em mudanças.
Destaco pela positiva, a mudança da bola, a possibilidade do jogador especialista em defesa e recepção (líbero) e por questões que se prendem essencialmente com as transmissões televisivas o sistema de rally-point.
Todas outras alterações, são no meu ponto de vista não alterações mas sim aberrações. Desde o serviço poder tocar na rede, a recepção poder ser feita em passe??? (horrível) até faltas na rede que agora são permitidas, não dando para perceber muito bem qual o papel da rede no meio disto tudo…enfim, um conjunto de alterações que tiraram beleza e aquela magia que só o voleibol devido à dificuldade de execução dos seus gestos técnicos proporcionava.
Como vês o actual estado do voleibol no nosso país?
Em Portugal, existem neste momento 2/3 equipas que investem forte na modalidade pelo menos em termos económicos. Já o principal investimento que deveria ser feito na formação, tem sido descurado, com algumas exceções, de clubes com tradições na formação de jovens atletas, como por exemplo a A.A.S. Mamede, o Leixões e o Castelo da Maia.
A realidade é que os clubes e os jogadores têm de se adaptar à realidade da conju ntura atual e reduzir os vencimentos dos atletas, para patamares que lhes seja possível poderem cumprir com os mesmos. Em Portugal há um (mau) hábito de haver atrasos nos vencimentos dos atletas e não me estou a referir exclusivamente ao voleibol, mas sim a todas modalidades, pois muitas vezes promete-se aquilo que não se pode dar, levando em muitos casos à extinção da secção em muitos clubes.
Tens acompanhado o voleibol de que forma? Jornais, redes sociais?
Tenho visto alguns jogos e vou-me mantendo sempre a par das novidades, quer via jornais, quer via facebook.
Existem boatos em alguns sites, redes sociais e noticias, sobre o possível regresso do FC Porto há competição. Em tua opinião, era bom ou mau?
Logicamente seria uma grande mais-valia para a modalidade. Todos querem ver envolvidos nas competições as grandes equipas e no caso do F.C.Porto é ainda hoje e após ter abandonado a modalidade à 22 anos, um dos clubes com melhor palmarés tanto a nível sénior como na formação. Atrás dos grandes clubes vêm os patrocinadores, empenho dos outros clubes para se superarem, qualidade e aumento do numero de espectadores e atletas. Também vería com muito bons olhos um eventual regresso de equipas como o Sporting Clube de Portugal e Nacional da Madeira, clubes que deram um excelente contributo à modalidade.
Muitos são os adeptos que se lembram de ti. Em tua opinião pessoal, o que dizem as pessoas quando te abordam?
Normalmente, dizem coisas agradáveis e que nos fazem bem ao ego e fazem-nos regressar ao passado e relembrar grandes memórias que às vezes estavam já esquecidas!
Desconhecido por muitos, mas no verão és visto na praia a jogar. Um passatempo, competição ou a saudade?
Acima de tudo saudade…..muita saudade!
Fala-se na crise desportiva, achas que o voleibol tem os seus dias contados ou está bem?
Já foquei anteriormente, que no meu ponto de vista, os clubes têm de mudar a visão daquilo que querem da e para a modalidade. Acima de tudo, creio que há uma grave crise ao nível de dirigentes desportivos. Fazem-se cursos e ações de formação para treinadores e atletas, mas onde se devia investir um pouco mais era em formar dirigentes, pois estes são do meu ponto de vista agentes de grande importância no fenómeno desportivo e com grandes responsabilidades no desenvolvimento dos seus clubes.
A maioria dos clubes juntaram-se ás redes sociais, um fenómeno que aumenta de dia para dia. Achas que em parte se deve há falta de apoios por parte da chamada imprensa desportiva?
Acho a pergunta pertinente e concordo em absoluta com ela!
Para terminar é sabido por todos, poucos são os sites que divulgam a modalidade. Em tua opinião que tens achado do trabalho desenvolvido por estes meios?
Acho que atendendo às dificuldades dos dias de hoje, esse trabalho de divulgação da modalidade é fundamental para o seu crescimento, como tal considero excelente aquilo que tem sido feito e espero que cada vez apareçam mais pessoas e clubes a tomar medidas como essa.
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