Volei Falado: O porquê de ser treinador?

Hoje, depois de conversar com um colega e amigo de longa data, dos meus tempos de treinador, eis que recordamos velhas histórias do passado não tanto distante e nessa conversa ficou a questão que deu o mote para esta crónica.

O porquê de ser treinador?

Realmente, pergunto-me a mim a mesmo o porquê de deixar tudo e apostar numa carreira de treinador. No meu caso pessoal, não fui daqueles que começou cedo a praticar voleibol nos chamados escalões de formação, nem tão pouco tive alguém que me dissesse para seguir a carreira de treinador, contudo muitos são os que hoje em dia que optam por começar a carreira cedo, alguns ainda praticando a modalidade, outros começam dado se calhar há pouca habilidade técnica do jogo, outros começam porque entretanto admiram aquele treinador que lhes orientou anos e anos, e poderia ir por ai fora a dar fortes indícios do como muitos começaram.

Pessoalmente, comecei pela necessidade de querer conhecer melhor as regras, os métodos, as chamadas metodologias de treino e poder por em prática aquilo que achava ser o meu ideal num treino, onde anos e anos de acompanhar os melhores, sempre deram para ver e aprender algo mais.

Como referi em cima, comecei tarde nesta modalidade que ao longo de mais de 20 anos aprendi, a ver, amar, aprender e a respeitar. Não fui um jogador de formação, a minha aconteceu muito tarde, já sénior e porque adorava a praia e ver aqueles artistas a jogarem por esses sítios que na minha memória ficarão lembrados para sempre como um grande património. Locais fantásticos, memórias e momentos gloriosos. Mas voltando ao tema, porque sermos treinadores?

Porque gostamos do treino, porque gostamos de formar atletas, porque adoramos sentir as vibrações durante uma partida, porque gostamos de sentir a adrenalina das vitórias e os medos das derrotas. Afinal porquê?

Qual o motivo que nos move?

Ao longo dos anos vi vários jovens a que inicialmente pensavam, vou ser treinador, formar atletas, criar campeões, fazer história. São muitos os argumentos, mas as coisas variam de mentalidade para mentalidade, há os que gostam de começar e orientar o clube do coração, existem os que apostam em serem logo vencedores, os que querem voos maiores, os que quando vencem muitos jogos pretendem logo chegar a sénior, os que desejam serem seleccionadores e por último os que querem ir para outros países, acho que em todas as modalidades os sonhos são sempre os mesmos, sentir novas adrenalinas.

Nos tempos de hoje, só as novas gerações pretendem os altos voos, chegar mais longe, a velha guarda essa pretende voltar a sentir a paixão que sentiu durante os tempos inicias de carreira.

Numa modalidade como o voleibol é difícil deixar de sentir paixão, ainda para mais quando a mesma se divide em dois, o indoor e a praia. Aliás por cá são mais os apaixonados pelo indoor do que na praia, e com pena minha, pois vejo excelentes treinadores aos poucos e poucos a abandonarem as suas carreiras e poucos seguidores para acompanharem os seus passos. Muitos foram os grandes nomes com quem tive o privilégio de partilhar e viver experiencias fantásticas e nomes como prof Francisco Fidalgo, prof Ana Rita Gomes, prof Joaquim Morais (Nene), prof Sérgio Casinhas, que se entregaram de corpo e alma a grandes feitos, cedo ou tarde deixam a modalidade e a dúvida será, quem seguirá os passos.

O que moveu durante anos esta geração do meu tempo a seguir a carreira de treinador?

Em minha opinião foi a paixão de ensinar, de formar e criar laços que nunca serão esquecidos e que ficarão para sempre naquele álbum chamado memória. Os títulos e as conquistas, essas se perguntarem ninguém se lembrará, aliás se perguntassem quantos títulos cada um conseguiu ao longo da sua carreira, o certo é que não se lembrariam, ou os que se lembram muito certamente procuraram na net.

O certo é que os tempos mudam, as mentalidades também e as gerações também, mas a vontade de mais e melhor continua estampada no rosto dos mais novos, e apenas espero que a motivação continue a apaixonar os mais novos.