Cabo Verde: Voleibolistas cabo-verdianos alvo de interesse internacional

domingo, 29 de abril de 2012

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Portugal, Marrocos e Qatar são alguns dos países que estão de olho nos voleibolistas cabo-verdianos. Em exclusivo ao primeiro número do "Desafio", o presidente da Federação Cabo-Verdiana de Voleibol (FCV), António Rodrigues, fala desse "assédio" aos nossos atletas, do presente e do futuro da modalidade no país e em África, mas também das mazelas das estruturas regionais.

Sendo a FCV a única federação cuja sede fica fora do eixo Praia/ São Vicente, isso não dificulta a articulação das políticas para a modalidade, o contacto com as instituições?
O facto de ficarmos na Ribeira Grande (Santo Antão) não prejudica a modalidade; basta ver que todos os nossos projectos, actividades e contactos com as instituições centrais têm saído a tempo e horas. Por outro lado, o nosso representante na Cidade da Praia, Carlos Piedade, resolve os problemas de imediato, quando necessário. E a internet também facilita os contactos.

Mas já tiveram problemas com a assinatura dos contratos-programa com a Direcção-Geral dos Desportos ou não?

Não, porque ao longo do meu mandato, temos utilizado uma política de diálogo constante e a este nível temos cumprido criteriosamente. Basta ver que nesses últimos anos temos sido quase sempre os primeiros a assinar os contratos.

Já agora qual é o montante do contrato-programa para este ano e a que se destina?
Cinco mil e 700 contos. Destina-se aos campeonatos seniores, masculinos e femininos, ao campeonato de beach volley, a formações e apoio às associações, ao circuito internacional.

Houve uma redução em relação ao ano passado?
Numa altura de crise todos temos de apertar o cinto e o desporto não deve fugir à regra. Sendo assim, praticamente todos os itens sofreram uma pequena redução, mas trabalhamos com aquilo que temos a bem da modalidade.
ARBITRAGEM, PRIORIDADE
Falou ainda pouco em formação, o voleibol tem enfrentado problemas de arbitragem. Como pensa a FCV contornar isso?

A arbitragem é uma das nossas prioridades para este ano. De resto, de 6 a 12 de Abril, o instrutor marroquino Berrada estará em São Vicente para ministrar uma formação destinada a todos os árbitros nacionais que pretendem chegar à categoria de árbitro internacional. Também durante os campeonatos nacionais, o director técnico da Federação Portuguesa de Voleibol virá a Cabo Verde para ministrar uma formação de Data-volley (processo electrónico de contabilização dos jogos) para árbitros e treinadores. Além disso, dois árbitros deslocar-se-ão ao Senegal no próximo mês de Julho para frequentar uma formação para árbitros de nível 1 na modalidade de vólei-de-praia.

Quando fala deste projecto, a impressão que se fica é que a FCV trabalha a uma velocidade, mas as associações trabalham apenas no improviso.
(risos) Claro. Se anteriormente se poderia falar de materiais desportivos como um dos factores de problemas que emperrava o desenvolvimento da modalidade nas ilhas, neste momento essa questão não se põe. A FCV conseguiu e tem distribuído material de primeiro nível - bola, redes, manuais de iniciação, etc. - a todas as associações e escolas de iniciação desportiva. Para além disso, os principais órgãos da FCV, nomeadamente o responsável pela arbitragem e o responsável pelo beach volley, têm tido contacto constante com as associações para dar apoio; mas a esse nível implica vários factores: a disponibilidade, uma boa organização do tempo para o desporto e incentivos por parte de instituições locais.

Mas o que é feito deste material?

Temos exemplos concretos em Santo Antão, no Tarrafal de Santiago, no Sal, onde esse material tem sido utilizado no projecto "Mass volley", de massificação da modalidade, através das associações, algumas escolas do EBI, escolas secundárias, projectos individuais. Nas restantes regiões, os materiais chegaram este ano. Em Santo Antão e no Tarrafal de Santiago, este projecto já deu frutos; basta ver o número e a idade dos jovens que jogam nas principais equipas destas regiões. Um exemplo deste trabalho é que a revelação do campeonato nacional no ano passado foi uma atleta de Santo, a Beatriz, de apenas 15 anos.
"ASSÉDIO" A BEATRIZ E OUTROS ATLETAS
É verdade que há alguns estrangeiros interessados em Beatriz?

Sim, há contactos neste sentido. Também há outros clubes interessados em atletas como o Vá, do Porto Novo e que neste momento está na Praia, e outros.

Clubes de que país?
Por altura do campeonato nacional, alguns dirigentes de Portugal, do Marrocos e do Qatar vêm a Cabo Verde observar in loco a nossa realidade e o nível dos atletas que temos. Na verdade, desde a nossa participação nos Jogos da Lusofonia, em Lisboa, clubes estrangeiros começaram a interessar-se pelos nossos atletas e já temos seis jogadores nas equipas portuguesas. Valdir, o Janichel e os outros têm sido os embaixadores do nosso voleibol em Portugal e mais gente pode seguir o mesmo caminho.

PROFESSORES NÃO SE ENVOLVEM NO VOLEIBOL 
Em competições internacionais, Cabo Verde conseguiu a medalha de bronze nos jogos da Lusofonia e o segundo lugar no torneio da Zona 2. Também por mérito próprio as duplas conseguiram a classificação para os Jogos Africanos (Moçambique) em beach volley. Não acha que se houvesse melhor organização dos regionais os resultados poderiam ainda ser melhor?
Aqui há muita coisa em jogo…

Que coisas?
A nível das infra-estruturas, de disponibilidade e de profissionais que desenvolvessem o voleibol nas ilhas. Basta ver que nos já nem contamos mais com a maioria dos professores de educação física para desenvolver a modalidade. Se antes as escolas eram ‘veículos’ do crescimento de atletas, nomeadamente para o voleibol, hoje poucos são aqueles que apoiam e intervêm ou mesmo leccionam o voleibol. Daí nossa difícil tarefa de ensinar, fomentar ou organizar provas regionais.

Mas qual é a explicação que os professores dão para não trabalharem o voleibol? Será que não acreditam no futuro da modalidade?
Alguns professores que se formaram no ex-ISE (actual UNI-CV) dizem que não ensinam o vólei porque no ISE só se priorizou o ensino teórico em vez do técnico; e no terreno sabemos que para além dos conhecimentos teóricos é preciso o lado prático, que cria vontade na sua execução. Por isso caímos muito na maioria dos liceus, a partir do momento em que deixamos de receber professores oriundos de Cuba. Também temos saudades dos activistas e percursores, casos de Djo Borja, Carlos Pudjim, Djimba, Abel na Brava, Jorge no Fogo, Carlos Rosa na Praia e outros. Mas para contornarmos a actual situação, temos anualmente organizado formação de treinadores de nível I e II com apoio da CAVB e da FIVB, e "felizmente" tem havido uma boa participação de professores e não só.

Apesar desses problemas, Cabo Verde pensa em participar na liga dos campeões africanos ou não?
Há o projecto de fazermos competições na Zona 2 para depois pensarmos na liga dos campeões africanos, mas ainda tudo está em fase de socialização. Depois de discutirmos com as associações e com os clubes, poderemos ter uma visão mais clara disso.

Mas até onde Cabo Verde pode ir nesta modalidade?
Cabo Verde já foi longe tanto na Zona 2, como no circuito continental e nos Jogos Africanos. Agora é trabalhar mais para ganharmos mais projecção, tanto a nível nacional como internacional.

Já agora pergunto: quem vai representar África nos Jogos Olímpicos de Londres no voleibol indoor?
No feminino é Argélia e no masculino, Camarões.

Voltemos a Cabo Verde. Todas as provas da Zona 2 previstas para CV foram canceladas?
A maioria das actividades da Zona 2 não são organizadas em Cabo Verde porque o custo elevado das passagens aéreas tem impedido que possamos fazer passar a nossa candidatura para ter vários eventos desportivos da nossa sub-região. Mas vamos receber as competições do beach volley, seniores masculinos e femininos, e dos cadetes indoor.

Em que local?
Ambas na cidade da Praia, no Verão.

E nos jogos da CPLP, Cabo Verde vai participar ou não?
Ainda não sabemos de nada. Mesmo assim, já conseguimos preparar um número de atletas de grande qualidade na faixa etária 16 anos para que, se participarmos nos jogos, possamos fazer uma excelente competição e apagar a má imagem que deixámos nas edições anteriores. Com o projecto Mass volley, principalmente nas ilhas de Santo antão e de Santiago (no Tarrafal), conseguimos criar um número grande de atletas nessa faixa etária.

Em Santo Antão e no Tarrafal de Santiago temos dois projectos em beach volley interessantes que, com o envolvimento das outras ilhas, poderemos conseguir um número razoável de candidatos a uma selecção muito forte que lutara para o título, não só nos jogos da CPLP como no torneio de Zona 2 de cadetes.

PRESIDENTE DA FCV ATÉ 2026
Já está na FCV há quase uma década, até quando pretende permanecer cargo?

Quando as associações acharem que já não estamos a dar tudo de nós para o voleibol, deixaremos o lugar para outros.

Pergunto isso porque a presidência das federações desportivas em Cabo Verde parece um cargo "vitalício".
No nosso caso, estamos a falar de apenas oito anos e achamos um exagero utilizar a expressão "vitalícia". Sabemos que tudo na vida tem uma sucessão. Entretanto, pensamos que, devido à posição que conseguimos a nível internacional, a nossa permanência por mais um ciclo olímpico, no horizonte 2012-2016, seria benéfica para a FCV e Cabo Verde. Mesmo porque neste momento sou secretário-geral da CAVB para área de beach volley e cada vez ganhamos mais experiência, mais contactos internacionais, parâmetros úteis para o pretendemos trazer para o voleibol nacional.

Quer dizer que vai manter-se no cargo até 2016?
Tudo depende das associações, mas penso que ao menos por mais dois anos. Entretanto, devo dizer que dentro da nossa equipa já há pessoas que trabalham afincadamente para o desenvolvimento do voleibol nacional e são as indicadas para a sucessão.
Fonte: A Nação

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